Os desafios do mercado de animações no Brasil


A animação surgiu no Brasil em 1907 com as caricaturas animadas de Raul Pederneiras. Depois, em 1917, o curta-metragem “Kaiser“, de Álvaro Marins, foi o primeiro produto audiovisual animado de origem brasileira.

O primeiro longa-metragem animado foi lançado em 1953 por Anélio Latini Filho. “Sinfonia Amazônica” conta com 500 mil desenhos em branco e preto e levou seis anos para ser concluído devido à falta de recursos do animador, mas foi um enorme sucesso na época. Já o primeiro longa em cores surgiu em 1971, com “Presente de Natal“, do quadrinista Álvaro Henrique Gonçalves.

Sinfonia amazônica (Anélio Latini Filho, 1953) - YouTube
“Sinfonia Amazônica”, 1953

Como deu para notar, a história da animação é antiga no Brasil, que foi um dos primeiros países do mundo a explorar essa novidade. Porém, foi nos últimos 30 anos que a animação e o cinema nacional como um todo ganharam mais espaço e investimentos. Um momento importante foi a criação da “Anima Mundi – Festival Internacional de Animação do Brasil”, que se tornou um dos maiores da América Latina. Em 2000, a “Associação Brasileira de Cinema de Animação” surgiu para unir os profissionais do mercado.

Nos últimos 20 anos houve um aumento nos investimentos no setor audiovisual visando expandir o mercado e aumentar os empregos. Porém, a partir de 2019, quando a Ancine (Agência Nacional do Cinema) foi transferida para o Ministério do Turismo, o apoio econômico diminuiu drasticamente e o setor vem passando por maus bocados.

Não bastasse isso, a pandemia em 2020 obrigou as pessoas a ficarem em casa. Os cinemas foram fechados, bem como os estúdios, e o mercado de animação (e do cinema, em geral) no Brasil ficou paralisado.

Durante o período de isolamento, as animações 2D ainda podiam ser feitas no home office, cada profissional com suas próprias ferramentas. O lado bom dessa mudança foi que começou a acontecer uma busca maior por profissionais de outros Estados, fora do eixo Rio-São Paulo, pois todo mundo viu que dava para trabalhar remotamente com esse tipo de animação.

Em contrapartida, o stop motion foi duramente afetado, pois são utilizados modelos reais para gravar quadro a quadro com uma máquina fotográfica ou um computador, praticamente impossível de ser feito à distância.

“A produção de animação digital seguiu normalmente, mas a de stop motion foi tão afetada quanto o cinema live-action, por depender de espaço físico para ser feita. Conseguiram produzir aquelas pessoas que já tinham estúdio montado em casa e trabalharam em produções pequenas, como para publicidade”, diz Lena Araújo, animadora de stop motion.

Mesmo enfrentando todos esses desafios, novembro de 2021 foi um marco para o setor de animação brasileiro com o lançamento de “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente”, dirigido por Cesar Cabral e produzido pela Coala Filmes.

Em um mercado dominado pela Disney e Pixar, e onde as salas de cinema são recheadas de filmes internacionais, a produção nacional de cinema enfrenta também a barreira de entrada. Na época do lançamento de “Bob Cuspe”, havia apenas uma sessão semanal de cinema em Fortaleza, Ceará.

Se o presente já é bastante desafiador para o audiovisual brasileiro, o futuro ainda é bastante incerto e sombrio. Sem incentivos, investimentos e ainda por cima, com a classe artística sendo atacada a todo o momento, a cultura sai bastante prejudicada. E quem perde com isso somos todos nós.

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