O que é a técnica “show, don´t tell” para escritores


“Show, don´t tell”, em português significa algo como “mostre, não fale”.

Essa é uma técnica usada por escritores que permite que o público experimente a história por meio de ação em conjunto com seus próprios pensamentos e sentimentos, em vez de exposição, diálogo ou narração.

Isso significa assistir a um personagem fazendo algo e entender a história, em vez de ter um personagem ou narração dizendo a mesma coisa. Em vez do personagem dizer “estou triste”, ele demonstra essa emoção por meio de um subtexto ou ação. Em vez de outro dizer: “eu sou bombeiro”, você o mostra usando equipamentos de combate a incêndio ou saindo de um prédio em chamas.

No cinema e na televisão, estamos lidando com um meio visual. Se você tem apenas um monte de personagens contando muitas informações, ficaria chato. Nós gostamos de ver as pessoas em movimento, em ação. Embora o diálogo instantâneo seja ótimo, no final das contas, devemos obter a maioria das informações através das ações de alguém, e não de suas palavras. O desafio para os escritores está em criar formas de contar suas histórias sem precisar o tempo todo de uma narração ou diálogos explícitos.

No primeiro episodio de “Game Of Thrones”, por exemplo, quando os Lannister estão chegando, observamos que os demais personagens assumem uma postura mais rígida, e até tensa. Somente esses poucos segundos já situam o público de que se trata de um grupo de pessoas importantes para a história, que imprimem medo e respeito nos demais. A expressão de Cersei Lannister também deixa claro que ela não está nem um pouco feliz em estar ali, e preferia ter continuado em King´s Landing.

9 scenes in Game of Thrones premiere were exact replicas of series' first  episode. Did you spot them all? - Hindustan Times
A chegada de Cersei Lannister em Witerfell – Game Of Throne, primeiro episódio

Tudo isso o telespectador percebe sem que ninguém precise explicar. E é muito mais interessante assim, não acha? As informações estão nas entrelinhas, nos detalhes. Um aperto de mão, um olhar de relance, uma expressão corporal. São essas sutilezas que transmitem emoções e sensações em quem está assistindo, o que um diálogo explicativo não conseguiria provocar.

Pense em um personagem que tenha uma condição social elevada, e sua primeira aparição em cena seja tomando um expresso em um café. Como você consegue mostrar a classe social dele sem que alguém tenha que verbalizar “fulano é rico”?

Talvez um close no relógio de pulso de marca enquanto ele toma um gole do café, ou quando ele deixa uma alta gorjeta para o garçom na mesa, enquanto se dirige ao seu carro, onde o motorista o está esperando. Em apenas poucos minutos, o público entendeu perfeitamente o contexto social do personagem sem que ninguém precisasse verbalizar essa informação. Além disso, outras pistas sobre suas características e hábitos também ficaram à disposição do público: podemos concluir que o personagem é altruísta, por ter deixado uma alta gorjeta, ou soberbo? O relógio caro mostra que ele gosta de esbanjar dinheiro ou pode ser um sinal de que é um homem com muitos compromissos e está sempre pulando de um compromisso para outro?

Essas demais pistas sobre o personagem não precisam ser respondidas nesse primeiro momento. Mas perceba como esses elementos vão oferecendo mais e mais peças para o público montar o quebra-cabeça de quem é esse personagem e como ele vai se desenvolver ao longo da história? Isso envolve o telespectador no filme, o faz mergulhar na história, pensar, imaginar. A experiência é muito mais rica e intrigante do que se, em poucos segundos, alguém tivesse contado tudo sobre aquele personagem.

O que você acha dessa técnica de “show, don´t tell”? Compartilhe com a gente nos comentários como você faz para criar as suas histórias mostrando mais do que contando.

Receba nossos artigos!
Nós respeitamos sua privacidade.