8TALKS – Entrevista com Ricardo Beccari: a união da aviação com a fotografia


8TALKS – Entrevista com Ricardo Beccari: a união da aviação com a fotografia

Todos nós temos aquela paixão que nos acompanha há anos, não é? Às vezes, vem desde a nossa infância. E quem são os poucos sortudos que podem transformar aquilo que mais amam em uma carreira? Ricardo Beccari é um deles. 

O paulistano cresceu em uma família de pilotos e não poderia dar outra: sempre foi um amante de aviões. No início da década de 80, conheceu a fotografia e se apaixonou, decidindo se tornar um profissional do ramo. Juntando suas duas paixões, Beccari se tornou um grande fotógrafo de aviões, já tendo trabalhado para várias marcas como Embraer, Boeing e Cirrus. Um dos únicos brasileiros especialistas em foto AIR-TO-AIR, Ricardo usa todo seu conhecimento como piloto para comandar perfeitamente dois aviões no ar e render os melhores ângulos e cliques. Uma das suas fotos mais conhecidas parece uma montagem de tão bonita: todos os modelos de jatos da Embraer juntos, um ao lado do outro. 

Imagem: http://beccariphoto.com.br

Autor de 2 livros sobre fotografia nas alturas, Beccari também tem um canal no YouTube em que exibe o programa “Porta de Hangar” e o “PH RADAR” para falar tudo sobre aviação, novidades desse universe e entrevista com diversas personalidades. Confira a nossa conversa com ele:

8 milímetros – Becca, você vem de uma família de pilotos. Como foi que a fotografia te ocorreu?

Ricardo Beccari – Sim, meu pai, irmão, sobrinho e primos são aviadores. Eu também me “brevetei” [tirar a Carteira de Piloto Privado, ou Brevê] em 1982, no aeroclube de Piracicaba, mas a fotografia veio por conta de um amigo, o Octamyr Coletti, que comprou uma câmera PRATIKA, alemã, e na época fez fotos de um cachorro dálmata chamado Max e um aquário. Aquelas imagens me encantaram pela qualidade, daí pra frente me apaixonei e usei uma câmera do meu pai, uma Olympus TRIP 35. Com ela, tive certeza que eu seria fotógrafo. Fiz com Dimitri Lee meu curso de fotógrafo na FOCUS do professor Enio Leite, que ainda hoje é meu amigo. Trabalhei com Dimitri, um grande fotógrafo de publicidade, e, com ele, me tornei realmente um profissional.

Imagem: arquivo pessoal

8 mm – O fato de você ser piloto te ajuda na hora de fotografar aviões?

Beccari – Sim, muito, porque discuto com os pilotos envolvidos de igual para igual. Sei os limites do equipamento que vou fotografar e do que me serve de suporte, digo o avião paquera que me leva, inclusive para reconhecer cada piloto em um vôo de formatura (ou seja, duas aeronaves voando juntas ao mesmo tempo). É um processo complicado em que você deve ter certeza de que todos estão confortáveis para voar em suas posições.

Imagem: arquivo pessoal

8 mm – A gente sempre fala que a foto precisa contar uma história. Suas fotos são extremamente artísticas e possuem uma narrativa própria. Você busca referências nas artes, cinema, pintura, outros fotógrafos?

Beccari – Sim, gosto da fotografia feita pelos cineastas da década de 50 e 60, a luz dura e o preto e branco me fascinam. Mas, para a fotografia de aviação, já é um pouco diferente. Gosto de voar no começo do dia, quando o céu está mais limpo. Para fotografar os aviões internamente é preciso uma luz aconchegante, suave e passar segurança e estilo pra quem vai comprar um avião ou usar o serviço de um táxi aéreo, por exemplo. Nos dias de hoje, penso que muita gente não conhece o valor dos profissionais de antigamente. Era necessário saber o que estava fazendo, não tinha muito como consertar digitalmente, era preciso ter conhecimento de luz, fotometria, filtros etc… E justamente isso que me obrigou a estudar. Aliás, é preciso ter cultura em um modo geral, ler e saber como funciona o mundo.

8 mm – Pode explicar como funciona a fotografia air-to-air? Se possível, comente desde o briefing até a execução das fotos.

Beccari – Para iniciar nesta área, é preciso primeiro não ter medo de altura e de voar. Para realizar as sessões de fotos, retiramos a porta do avião ou a janela de emergência. Tudo começa com um briefing detalhado, com pilotos, fotógrafo e cliente. O cliente tem que nos dar o cenário que ele deseja e, dentro disso, fazemos o vôo.

Voamos lado a lado, eu uso um rádio e um fone para a aviação. Procuro sempre transmitir a mensagem com calma e clareza. Gosto de voar em círculos, pois tenho todas as paisagens à minha disposição, sem contar que a luz também vai mudando conforme viramos. Peço ao piloto para voarmos pela esquerda e direita, alterando o nível de vôo.

Imagem: arquivo pessoal

8 mm – Quais medidas você toma para garantir a segurança de todos?

Beccari – Primeiro, garantir que todos os envolvidos são certificados para o trabalho. Principalmente para o vôo de formatura, verifico a meteorologia. Uso sempre um “rabo de macaco”: um colete com uma tira na qual eu me amarro ao avião de forma que fico afastado pelo menos 40 cm da saída da porta. Se houver alguém comigo, exijo que todos estejam devidamente afivelados ao banco ou ao interior de alguma coisa firme no avião e confiro se não há nada solto. Para assegurar que vou me entender com os pilotos perfeitamente, uso um fone e um rádio de aviação para que todos me ouçam.

8 mm – Qual as maiores dificuldades quando você está fotografando lá em cima? O balanço? As condições de luz? Coordenar os dois aviões?

Beccari – Os três são problemas, mas o balanço, sem dúvida, é o pior. Imagine-se fotografando em uma estrada cheia de buracos. A coordenação com os aviadores é simples, todos sabem o que estão fazendo. A condição do clima vai depender do que se planeja fotografar. Se você tem um tempo fechado, não é aconselhável fazer nada, a não ser que você queira voar sobre as nuvens – lembrando que a altura máxima para que o corpo humano não sofra com falta de oxigênio é no máximo de 11.000 pés, acima disso é bom usar oxigênio para não “apagar”.

Imagem: arquivo pessoal

8 mm – Já teve algum perrengue?

Beccari – Sim, um dia passamos lambendo entre dois aviões. Inabilidade do piloto que estava no avião a ser fotografado. E desviar de urubus é normal!

8 mm – Que lentes você costuma usar lá em cima? Que tipo de setup é o ideal pra essas condições?

Beccari – Uso a câmera 1DX Mark II e duas lentes: uma 17/40mm e uma 70/200 2.8 IS L.

Não tenho um setup específico, mas, com aviões à hélice, procuro usar velocidades baixas no obturador, tipo 1/60 para baixo.

8 mm – Conte um pouco da sua relação com a esquadrilha da fumaça?

Beccari – Sou um apaixonado pelo Esquadrão! São profissionais de alto nível, pessoas simples que trabalham duro para serem os melhores. Viajo com eles sempre que posso. Já fomos para América do Norte, Sul, Central e Europa, o que resultou na publicação de um livro chamado  “Na Trilha da Fumaça”. Em 2006, fui eleito Fumaça Honorário, uma honraria a poucos. Eu sou o número #35 com orgulho.

Na trilha da Fumaça - Ricardo Beccari

8 mm – Qual seu trabalho preferido? Sua foto favorita?

Beccari – Não tenho trabalho favorito e nem foto. Gosto muito de fotografar aviões comerciais em vôo, a majestosa aeronave ao seu lado e é emocionante. Voo com uma delicadeza que só é percebida neste momento, em vôo. 

Outro vôo que me deixou muito emocionado foi quando voei com a Esquadrilha da Fumaça sobre os Andes. Ver sete aviões voando juntos é um espetáculo surreal!

 

Inspirador, né? Para saber mais sobre o trabalho do Beccari, assista ao seu canal no YouTube!

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