Dos 30 brasileiros escolhidos para ser jurados no Cannes Lions desse ano, apenas um é negro (Angerson Vieira, diretor executivo de criação da Africa). Em um país onde mais da metade da população de auto-declara negra, a proporção não parece estar muito justa.
Esse “detalhe” não passou batido. O coletivo “Papel & Caneta”, com apoio da “Chapa Preta” e do coletivo “Publicitários Negros” redigiu uma carta aberta direcionada a Simon Cook, CEO do evento, questionando a falta de diversidade entre os brasileiros selecionados. “Se os critérios de Cannes não contemplam essa inclusão e essa representatividade, o que precisa mudar não seriam os próprios critérios?”, diz um trecho da carta.
Cook admitiu o erro e pontuou os esforços que a organização tem feito no sentido de trazer mais diversidade e equidade para dentro da premiação, em todos os âmbitos. “Estamos comprometidos em ter júris mais representativos – mas ainda estamos longe de onde queremos chegar. Neste ano, erramos na seleção dos jurados do Brasil […] Até o momento, nossos esforços têm sido focados na inclusão e representatividade em âmbito global, com a participação de jurados negros passando de 8% em 2021 para 13% neste ano, enquanto a presença de pessoas não brancas passou de 37% para 47% (de um ano a outro). Esses são passos na direção certa, em uma escala global. Para o futuro, estamos comprometidos em revistar nossos critérios, ampliando a transparência sobre a representação dos países, garantindo que os jurados de cada local sejam uma representação da sociedade.”, concluiu.
Infelizmente, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que homens e mulheres negras ocupem seus lugares dentro da sociedade e do mercado de trabalho, especialmente em uma indústria tão elitista quanto a da publicidade. Porém, esses movimentos, contestações e debates são fundamentais para que mais paredes sejam quebradas e as barreiras que excluem inúmeros grupos da nossa sociedade sejam, finalmente, derrubadas.
