8TALKS – Entrevista com Fábio de Lima Martin: fotógrafo, editor e diretor


8TALKS – Entrevista com Fábio de Lima Martin: fotógrafo, editor e diretor

Fábio de Lima Martin nasceu em uma família que trabalha com audiovisual e fez da cinematografia parte da sua história, tanto que a primeira vez que editou um vídeo tinha apenas nove anos. De lá pra cá suas atividades na área se estenderam à fotografia, captação de vídeo, assistência de direção e direção de vídeo. Desde 2013, integra a equipe da 8 Milímetros onde emprega sua polivalência em todas as etapas de produção de vídeo, que vão do roteiro à montagem.

Apaixonado pelas diversas expressões artísticas, é formado em História da Arte pelo Museu de Arte de São Paulo. Tem fascínio pelas palavras, o que lhe rendeu, além do gosto pela literatura, o aprendizado do seu segundo idioma: o italiano. Também é amante de esportes, tendo trabalhado em Olimpíadas e Paraolimpíadas no Brasil e no exterior.

Ficou curioso para saber mais sobre o trabalho e a trajetória do Fábio? Confira nossa entrevista mais do que especial!

[8 Milímetros]  Você acabou de ganhar um edital do Itaú Cultural. Começa contando pra gente sobre esse projeto.

[Fábio] De 17 de março até o final de julho, eu fiquei em casa, preso, não saía nem para ir ao mercado. Eu senti uma extrema necessidade de colocar para fora o que eu estava sentindo, que eu nem sabia o que era. E dedidi que faria isso com o dom que eu tenho, que é imagem. Aí, aqui nesse meu enorme apartamento de 20m2 eu fiz diversas fotos e vídeos, aleatoriamente. Na época, o edital nem existia.

Eu não fiz com um objetivo específico, eu fiz mais como um “desafogo” mesmo. Mas quando a gente faz qualquer coisa como artista, não fazemos isso para nós. No íntimo você quer mostrar, você não faz para deixar na gaveta.

Então eu criei um perfil (@das6as8) no Instagram para publicar essas imagens. Escolhei esse nome porque me dei conta que era o período de maior depressão, eu ficava muito mal nesse horário, das 18h às 20h.

Então veio o edital e, entre tantas coisas que eu tinha produzido, resolvi criar uma coesão, de começo, meio e fim. Me inscrevi e fui selecionado. Houveram mais de 9 mil inscrições, e o meu foi um dos ensaios selecionados, com nove fotografias.

Foi muito importante em diversos aspectos, como o financeiro, mas principalmente o reconhecimento, pois foi a primeira vez que eu tive um reconhecimento forte do meu trabalho, para além das minhas fronteiras sociais. São pessoas que eu nunca vi, que não sabiam quem eu era, então isso foi muito bonito para mim porque foi um reconhecimento profissional, artístico, de uma instituição grande.

Por conta da pandemia, infelizmente não virou uma exposição, mas virou um catálogo virtual no site do Itaú Cultural.

[8 Milímetros] Em 2018 você fez uma exposição. Queríamos que você contasse um pouco, principalmente como foi escolher o que vai ser exposto.

[Fábio] Foi um convite de um espaço cultural e gastronômico que convidava artistas para exporem seus trabalhos. Eu decidi fazer junto com meu irmão, que também é fotógrafo. O título que escolhemos foi “Imagens são palavras que nos faltaram”, uma frase de Manoel de Barros, meu poeta preferido e uma das minhas maiores inspirações de trabalho.

Essa frase fez muito sentido pra gente porque nascemos no audiovisual e aprendemos a nos comunicar com imagens. Quando queríamos falar alguma coisa, era por imagem. A escolha dos trabalhos ia nesse sentido, de quando a imagem acha a gente, ou quando falta alguma coisa e só a imagem completa aquilo.

Nenhuma daquelas imagens tinham sido feitas pensando naquela exposição, eram imagens feitas aleatoriamente e não tinham uma conversa anterior entre si.

Fazendo um paralelo com o edital, eu também parti de algo que já estava pronto e realoquei.

Eu tenho outro projeto em curso, sobre sonhos, é totalmente diferente. Eu fiz um caminho quase acadêmico, porque eu anoto os meus sonhos num caderno e aí eu decidi que iria fazer um ensaio fotográfico que pode virar uma outra exposição e um livro. Foi um processo muito mais metódico e acadêmico: eu reli todos os sonhos, escolhi os que eu queria transformar em imagem, reescrevi, pensei o que eu queria passar para a pessoa que fosse assistir, até chegar no resultado, que eu ainda não cheguei porque estou no processo.

[8 Milímetros] Na sua cabeça, até que ponto o olhar do outro interfere no que você produz? De modo geral, ninguém que produz arte o faz para ficar na gaveta, as pessoas fazem para fora.

[Fábio] Para mim, é muito difícil essa questão do outro. Ela não interfere em nada quando eu estou imerso no trabalho, só comigo, com o que eu tenho que fazer a mensagem que quero passar. Mas no instante seguinte, eu já estou pensando no outro em alguma medida, porque eu não estou fazendo aqui para ficar na gaveta. Em nenhum momento eu faço só pensando no outro, mas a gente pensa como vai ser o reflexo daquilo.

Essa questão do outro ela me toca mais antes de fazer, se as pessoas vão se interessar. Ou seja, é colocar o outro num pedestal.

[8 Milímetros] Você comentou da exposição que fez com o seu irmão. Queria aproveitar o “gancho” para que você contasse um pouco da sua história enquanto profissional do audiovisual, que é muito peculiar e envolve sua família.

[Fábio] Os meus pais trabalhavam com audiovisual desde que eu nasci. Então, desde que eu era criança eu brincava ao lado de vídeos-cassetes e negativos, e aquilo sempre me encantou. Eu comecei a “brincar” de editar vídeos cedo, eu via meus pais fazendo e sabia como fazer. Comecei com nove anos e não parei mais. Com 10 anos, minhas edições já eram profissionais, como o trabalho que meus pais entregavam.

Eu trabalhei muitos anos com meus pais, mas só na faculdade é que fui ter contato com a fotografia, apesar deles também serem fotógrafos e eu ter crescido envolto de negativos e laboratórios de revelação. Eu fiz Fotografia, e ali foi uma “chavinha”. Eu descobri outras coisas que eu sabia que tinha para descobrir.

[8 Milímetros] Aqui na 8 Milímetros você trabalha como editor, cinegrafista, assistente de direção, fotógrafo, não só aqui como em outras produtoras. Você começou a sua carreira no social, e continuou no corporativo, então você tem esses dois lados.

[Fábio] Eu sou muito orgulhoso desse meu caminho por essa diversidade. O meu trabalho como fotógrafo me acrescenta algo diferente nas minhas edições, que acrescenta algo diferente na minha atuação como assistente de direção, que me acrescenta como fotógrafo. Evidentemente, para ser um diretor, você precisa saber de tudo um pouco, então eu estou no caminho.

Eu sou os três (fotógrafo, editor, assistente/diretor), e eles se complementam. O audiovisual dá muitas possibilidades para essa diversidade – para o lado bom e o lado ruim. É aí que entra o orgulho dessa minha trajetória por ter sabido usar essa polivalência positivamente, pois seria muito fácil “tropeçar” e ser mediano em todas elas. Mas é um trabalho contínuo de não tropeçar, é difícil manejar todas as áreas.

Eu não escolhi um único caminho porque eu gosto muito dos três. Isso era muito importante para a minha felicidade como pessoa, que não era só falar que sabe fazer, era “ser”.

[8 Milímetros] O que você gostaria de falar como um conselho que vem das experiências que você tem?

[Fábio] Eu vou de vários clichês aqui, então me desculpem de antemão!

O audiovisual é muito 8 ou 80: se você gosta, gosta mesmo; se você não gosta, não vai gostar. Então, primeiro é ter certeza de que esse é o seu negócio. O mundo hoje é audiovisual, Instagram, TikTok, Twitter, então as pessoas, principalmente os jovens, podem achar que é muito fácil, que já querem começar dirigindo filme internacional, e não é isso. Por isso, você tem que ter muita certeza de que aquilo é para você.

É muito pesado em diversos aspectos, fisicamente, tecnicamente (você não pode ficar parado, só com mínimo conhecimento e achar que vai ser assim para sempre). Apesar do audiovisual estar em tudo é uma área muito restrita, então você vai esbarrar porque é difícil.

A outra dica é ser sempre inquieto, não pode ficar parado, tem que estar sempre descobrindo coisas novas, técnicas autorais, estar ligado com o que está acontecendo no mundo, ter a curiosidade de entender o que acontece nas demais áreas. Não precisa querer atuar em várias áreas, como no meu caso, mas ter a empatia de entender o trabalho do colega, porque o audiovisual é muito interligado, se o maquinário está com algum problema, isso vai interferir no trabalho do editor. Porque o audiovisual é uma arte coletiva.

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